sábado, 28 de abril de 2012

Diretor de 'Estômago' filma noRio versão de 'Os velhosmarinheiros',

Falta uma semana para o
curitibano Marcos Jorge, realizador
do premiado "Estômago" (2007),
encerrar as filmagens de "As
fantásticas aventuras de um
capitão", produção de R$ 8 milhões
que marca um novo mergulho do
cinema brasileiro na literatura do
baiano Jorge Amado (1912-2001).
Previsto para estrear ainda neste
ano, o projeto, que coincide com as
comemorações do centenário do
escritor, foi fisgado do romance
"Os velhos marinheiros ou o
Capitão-de-longo-curso" (1961).
- Este é um filme sobre como
manipulamos nossas verdades. No
livro, Amado brinca com a
construção de mitos - diz Marcos
Jorge, num intervalo das filmagens
no Centro Educacional Sagrado
Coração de Jesus, no Alto da Boa
Vista.
Quando abriu o set ao GLOBO, na
terça-feira, Jorge filmava uma cena
com seu protagonista, Joaquim de
Almeida, astro português tipo
exportação.
- Nos quase cem filmes de que
participei como ator, nunca encarei
um com tantos monólogos e
diálogos como este - diz Joaquim,
diluindo o sotaque lisboeta.
Famoso em Hollywood no papel de
vilão em filmes como "Velozes &
furiosos 5" (2011), Joaquim
interpreta o comandante Vasco
Moscoso de Aragão no longa-
metragem. Dividida em três atos, a
trama acompanha os efeitos das
bravatas de Vasco sobre a
população de Periperi, cidade
criada por Amado.
- Vasco é um contador de histórias
na linha de personagens clássicos
como Pedro Malasartes ou o Barão
de Münchausen. Mas suas histórias
são possíveis. Não é realismo
mágico - explica Jorge, que filma
tendo José Roberto Eliezer ("O
cheiro do ralo") como diretor de
fotografia.
Em Periperi, Vasco terá de lidar
com a desconfiança do fiscal
aposentado Chico Pacheco (José
Wilker), seu opositor. Entre idas e
vindas, o lobo do mar esbarra com
diferentes mulheres, vividas por
Claudia Raia, Patrícia Pillar e Tainá
Muller.
- "Os velhos marinheiros" é um
romance do qual pouco se fala, por
ser localizado, na obra de Amado,
entre suas grandes personagens
femininas pós-Gabriela. É um livro
menos político e menos sexual - diz
Jorge, lembrando que o filme, com
distribuição da Warner Bros.,
reúne uma equipe multinacional.
A cargo dos efeitos especiais,
indispensáveis para dar
verossimilhança aos causos de
Vasco, está uma dupla espanhola
especializada no setor: Juan
Tomicic e Diego Saura, filho do
cineasta Carlos Saura ("Bodas de
sangue"). Para fazer a maquiagem,
foi importada da Argentina Lucila
Robirosa, que cuidou do visual de
Ricardo Darín no oscarizado "O
segredo dos seus olhos" (2009).
Na fila, '2 sequestros'
Lucila maquia os atores em
dobradinha com o cabeleireiro
carioca Alex de Farias.
- Temos ainda 52 atores em cena,
fora 800 figurantes, filmando
majoritariamente em locações no
Rio - explica o produtor Marcos
Didonet, da Total Filmes,
responsável por blockbusters como
os dois "Se eu fosse você" (2006 e
2009).
Jorge assumiu o filme a convite da
Total. O diretor já rodou cenas
ainda em locações em Tiradentes
(MG) e reproduziu, no navio Pink
Fleet, do empresário Eike Batista, a
embarcação usada por Vasco. Mas a
maioria dos cenários foi construída
entre as salas do Centro
Educacional Sagrado Coração de
Jesus, incluindo o bordel de Carol
Língua de Ouro, vivida por Claudia
Raia, que se vestiu de freira numa
cena com Vasco.
- Aqui, erguemos o bar da cidade, a
Pensão Montecarlo, escritórios.
Com os efeitos, caracterizamos os
espaços para Periperi ter um visual
universal e atemporal, parecendo
um pouco anos 1940, um pouco
anos 1960 e meio contemporânea -
diz a produtora Walkiria Barbosa. -
A ideia é que "As fantásticas
aventuras de um capitão" busque
um lado diferente de tudo o que o
cinema já tirou de Jorge Amado.
Queremos seu lado de fábula.
Formado na Itália, Jorge encontrou
em "As fantásticas aventuras de um
capitão" uma estrutura de
produção diferente do regime de
baixo orçamento de seus filmes
anteriores. "Estômago" custou US$
1,6 milhão. Dirigido em parceria
com Fernando Severo, "Corpos
celestes" consumiu R$ 1,4 milhão.
Preparado para filmar "2
sequestros", com Rodrigo Santoro,
até dezembro, Jorge encara a saga
de Vasco como um reencontro com
Amado, de quem foi ávido leitor.
- Este foi o primeiro roteiro que
escrevi sem parceiros. Mas a prosa
de Amado se impõe com tal força
que, na adaptação, a gente sente o
mestre baiano do lado.

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