Em um procedimento inédito na Bahia, um menino de 12 anos passou por um transplante de pele, em Salvador. Ele recebeu alta nesta segunda-feira (13), após passar 40 dias internado no Hospital das Clínicas.Jeferson recebeu a pele transplantada no dia 25 de agosto, para corrigir uma lesão séria causada por queimadura elétrica. A criança, natural de Candeias, região metropolitana de Salvador, estava internada no Hospital Geral do Estado (HGE) há 11 meses e foi encaminhada ao Hospital das Clínicas por solicitação da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).Valber Menezes, coordenador do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas, explica que a pele utilizada para o transplante pode ser de qualquer pessoa. No caso de Jeferson, a pele utilizada na cirurgia foi a de um banco de pele em Porto Alegre, pois na Bahia ainda não existe esse tipo de banco. O médico contaque a origem da pele, inclusive, foi alvo de curiosidade do paciente."Jeferson brincava com a gente, dizia: ‘poxa doutor, essa pele vai ser de alguém famoso? Você vai ter que me dizer o nome da pessoa, se é famosa, para que eu fique sabendo'. Eu disse que não sabia quem era a pessoa", conta Menezes. "A pessoa que vai ao banco, que faz o transplante de pele, ele retira a pele, como se tira os outros órgãos de pessoas que morrem. Se remove a pele, descelulariza a pele, o que remove todos os antígenos para que, quando colocar essa pele em outra pessoa, não haja reação", explica o médicoO garoto de 12 anos sofreu o acidente quando passava férias com o pai na cidade de Coité, a cerca de 235 km de Salvador. Adriana Assis Borges, mãe da criança, relata como foram os momentos de dor do filho. "Ele dizia: 'Mãe a senhora está sentindo a minha dor?'", lembra. "Ele dizia, 'minha mãe, eu queria que a senhora, que é gordinha, pudesse me dar pele'. Eu falei para ele: 'filho se eu pudesse eu te dava minha alma e minha vida a você'", conclui.O menino revela que gostaria de ir à igreja, agradecer. "Deus salvou minha vida", diz Jeferson.
Segundo Valber Menezes, as células de peles utilizadas no transplante são removidas como um curativo biológico, para que o paciente não apresente reação. Com isso, ela fica inerte e pode ser colocada em outra pessoa. Após este procedimento, a pele é integrada à área do corpo queimada ou ferida, como um curativo. Depois de algum tempo, o paciente pode perder um pouco da pele, mas em áreas menores, onde futuramente poderá receber um enxerto."Todo o atendimento do garoto foi feito no Hospital Geral do Estado (HGE), mas como a queimadura foi muito grave, chegou um ponto em que não tinha pele para cobrir a área lesionada. Foram realizados vários enxertos, tirando pele inclusive do couro cabeludo, mas ainda assim faltou. No final faltavam 2,5 metros de pele para cobrir a área das costas e do braço. Havia lesões nas costas, nos braços e na perna", explica Valber Menezes.O médico ainda esclarece como foi iniciado o tratamento do garoto, antes da realização do transplante. "Fizemos inicialmente um transplante autólogo de células tronco na área que não cicatrizava e, com a cirurgia, houve uma melhora. Então combinamos para fazer o transplante, para que resolvesse o problema em definitivo" afirma.Apesar da pele ser mais fácil de ser absorvida do que os outros órgãos, o médico chama atenção para os riscos do tratamento. "A técnica é simples e curativa, mas se houver uma infecção pode haver a perda de toda a pele que foi colocada", explica.De acordo Valber Menezes, a Sesab fez uma parceria com o banco de pele de Porto Alegre, que já existe há 20 anos, após o Hospital das Clínicas se cadastrar como transplantadores. "Já temos configurado para até o final do próximo ano uma estruturação de banco de pele e osso", diz.Segundo informações da Secretaria de Saúde, há um projeto para o banco de pele eosso, mas ainda não há data definida para implementação.
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