Desde que o africano Souleymane Bah, de 47 anos, foi internado emCascavel, no oeste do Paraná, na quinta-feira (9), com suspeita de estar com o vírus ebola, os cerca de dois mil estrangeiros que vivem na região começaram a sentir o aumento do preconceito. O presidente da associação dos haitianos da cidade, Marcelin Geffrard, diz que tem ouvido comentários preconceituosos, mas orienta seus conterrâneos para que mantenham a calma.
“Agora está todo mundo mais relaxado porque o resultado do exame deu negativo. Mas as pessoas começaram a falar que tem haitianos casados com brasileiras, com filhos e comentam que não vão mais saber quem está doente e o vírus vai começar se espalhar. Ficam me perguntando no trabalho: ‘Vocês que estão com ebola? Tem que mandar todo mundo embora”, conta.
Segundo Geffrard, a hostilização começou ainda na noite de quinta-feira, quando a notícia de que havia um africano internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro Brasília, com suspeita do vírus foi divulgada. “Na quinta-feira, logo que se espalhou a notícia do ebola, um haitiano me contou que estava voltando do trabalho, e no ônibus as pessoas não queriam sentar perto dele por medo, ficaram afastadas”.Geffrard diz que muitos foram procurá-lo para pedir ajuda. “Os haitianos estão com medo, vários vieram falar comigo pedir para explicar a diferença entre haitiano e africano e que não temos epidemia de ebola no nosso país. Peço para eles ficaram mais quietos, enquanto o medo das pessoas não passa, para não falarem muito”, diz. Geffrard também faz um programa de rádio e aproveitou para divulgar mais sobre a doença. “É preciso divulgar que o Haiti fica na América Central e não na África e explicar sobre os sintomas e como é a transmissão”.
Para o haitiano, o preconceito não é pela cor da pele, mas sim por causa da nacionalidade. “Eu já morei nos Estados Unidos, e aqui no Brasil o preconceito não é muito exagerado como lá. Tempouco preconceito com relação ao negro, o maior preconceito é por sermos estrangeiros”, conta Geffrard, que
também acredita que as pessoas ficaram com receio porque Bah estava morando em um albergue onde também estavam hospedados alguns haitianos.De acordo com o responsável pelo setor de imigração da Polícia Federal de Cascavel, Milton Fantucci, os estrangeiros tendem a se aproximar e ficarem em grupos por causa da dificuldade com a língua.
A maior parte entra no país com visto de turista e pede refúgio em seguida, conforme a PF. Em Cascavel, os haitianos são a maior concentração de estrangeiros. “Trabalhamos com o número de dois mil estrangeiros na região, a maior parte são de haitianos, há muito poucos de outras nacionalidades, um grupo muito pequeno. Tivemos um aumento de paraguaios, mas nada comparado ao número de haitianos”, afirma Fantucci.
Ainda conforme Fantucci, não há estrangeiros na região em situação ilegal. “Todos estão em situação legal, pode até ser que tenha um caso isolado, mas não temos conhecimento. O pedido de refúgio é uma situação legalizada”.
O professor de antropologia João Paulo Angeli fez uma pesquisa com haitianos que moram na região oeste do Paraná e também ajuda a entender a realidade desses imigrantes. “É um trabalho que começamos em abril deste ano em Cascavel, onde há uma grande concentração de haitianos. Vamos apresentar os problemas que eles enfrentram, a imigração, o preconceito e os problemas socieconômicos", diz.“A diáspora haitiana: da utopia à realidade” será aberta na Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, também na região oeste do estado, a partir de quarta-feira (15) e segue até o dia 18.Na mostra também serão expostas fotografias, vídeos, mapas do percurso migratório, além de dados das entrevistas com 70 haitianos. A abertura será a partir das 19h e é gratuita.O evento vai ser realizado na Fundação Cultural na Rua Benjamin Constant, 62, Centro.
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