domingo, 5 de fevereiro de 2012

Presa aprovada em vestibular no Ceará espera sofrer preconceito de colegas Cynthya Corvello, condenada por homicídio, teve pontuação suficiente para cursar história na Federal do Ceará e agora aguarda decisão da Justiça

Cynthia Corvello na biblioteca do presídio
A divulgação dos aprovados em um vestibular é um alívio para os
convocados. Não para todos. Cynthya Corvello, 40, aprovada no curso de
História da Universidade Federal do Ceará (UFC), terá que esperar mais
uma decisão para comemorar.


Cynthya foi condenada a 25 anos e quatro meses pela co-autoria de um
duplo homicídio praticado em Fortaleza, no ano 1993. Hoje, ela está
presa em regime fechado no Instituto Penal Feminino, em Itatinga (CE),
e aguarda uma autorização da Justiça para frequentar as aulas.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará entrou com um pedidona Justiça
para que Cynthia seja autorizada a deixar a carceragem cinco vezes por
semana e percorrer 30 quilômetros até Fortaleza para assistir às aulas
do curso de História do Centro de Humanidades da UFC, no bairro
Benfica, região central da capital.

"Eu tento trabalhar a minha mente para, caso haja uma negativa, eu não
me sinta frustrada, e não desista desse sonho que é voltar a estudar,
mesmo em cárcere", conta.

Se conseguir o feito, a partir do dia 23, quando o semestre letivo
começa, irá para as aulas com monitoramento eletrônico ou sob escolta
policial.

Cynthya diz que deve enfrentar o preconceito de seus futuros colegas.

"Se eu tiver vergonha da minha situação de apenada, e estar buscando
crescimento mesmo em situação de cárcere, o preconceito vai me doer.
Se eu tiver orgulho da minha situação de apenada, que mesmo em cárcere
está buscando crescimento, eu acho que, pouco a pouco, as pessoas vão
se aproximar, vão me conhecer, e, de repente, podem achar até positivo
essa integração entre a sociedade reclusa e a sociedade liberta",
reflete.

Cynthya tirou 900 na Redação – a nota máxima é 1000. Nas provas
objetivas, sua média foi 612. A excelente pontuação, contudo, não foi
suficiente para uma vaga no curso de Psicologia, sua primeira opção.
Como as aulas do curso de Filosofia da UFC são à noite, a logística
para que ela assista às aulas seria ainda mais complicada. Restou
História.

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