Segundo o engenheiro, tratava-se apenas de um "detalhamento técnico". Já o Crea-RJ discorda da versão do profissional, que foi sabatinado por oito especialistas do órgão e não acrescentou muitas informações em relação à linha inicial de investigação. O acidente, ocorrido em 25 de janeiro último, provocou 17 mortes confirmadas e deixou cinco desaparecidos.
"Ele pode ser considerado o profissional responsável pelo trabalho, já que apresentou um laudo técnico. Para o Crea, esse laudo é equivalente a um contrato", afirmou o coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes, Luiz Antônio Cosenza.
De acordo com o representante do Crea-RJ, Cunha Brasil deixou de cumprir uma das normas estabelecidas pelo órgão -- a apresentação de RT (atestado de responsabilidade técnica) --, o que pode gerar uma multa a ser definida. "Nosso departamento jurídico ainda vai ver isso. Trata-se de um caso excepcional", disse Cosenza.
De acordo com o representante do Crea-RJ, Cunha Brasil deixou de cumprir uma das normas estabelecidas pelo órgão -- a apresentação de RT (atestado de responsabilidade técnica) --, o que pode gerar uma multa a ser definida. A cassação de registro profissional, porém, está descartada.
"Nosso departamento jurídico ainda vai ver isso. Trata-se de um caso excepcional", explicou Cosenza, que ainda aguarda da Secretaria Municipal de Urbanismo o envio das plantas dos três prédios que desabaram: Liberdade (20 andares), Colombo (dez andares) e Treze de Maio (quatro andares).
Segundo o conselho, o síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, também será chamado para prestar esclarecimentos. A sabatina deve ser agendada para a quinta-feira da próxima semana, 16.
"Toda obra tem que ter um laudo"
O "detalhamento técnico" elaborado pelo engenheiro Paulo Sérgio Cunha Brasil foi entregue ao síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, em novembro, depois que o administrador do prédio notou um possível excesso de sacos de cimento utilizados na reforma do terceiro andar. Uma cópia desse documento foi entregue à polícia pelos advogados de Renha.Na versão do engenheiro, que foi contratado pela TO a partir de uma indicação de um parente, o seu trabalho consistiu em explicar que os procedimentos estavam de acordo com as normas técnicas. "O síndico pensava que havia três sacos de cimento [equivalente a 120 quilos] por metro quadrado, mas não havia irregularidade no armazenamento de material", disse.
Quanto aos trabalhos no nono andar, Cunha Brasil disse que não chegou a avaliar. "Não passei do terceiro andar", disse. O engenheiro afirma ter visitado o edifício Liberdade apenas uma vez, e que não observou qualquer tipo de rachadura ou dano estrutural durante a análise.
"Se existisse qualquer coisa nesse sentido, eu teria observado. Engenheiro é que nem médico, que consegue facilmente observar quando uma pessoa está doente. Posso dizer que não havia danos estruturais visíveis naquele prédio", argumentou.
Cunha Brasil é defensor da ideia de que qualquer obra -- "por mais boba que seja" -- não pode ser iniciada sem o acompanhamento de um engenheiro e, consequentemente, um RT (responsabilidade técnica). "O custo não é caro. Toda obra tem que ter um laudo. Talvez se eles tivessem contratado esse serviço, nada disso teria acontecido".
O engenheiro criticou ainda o processo de remoção do entulho produzido pelo desabamento dos três prédios. "Se a Defesa Civil não tivesse removido tudo, eu poderia recalcular o prédio a partir do entulho e identificar a estrutura de sustentação, quais armações eram utilizadas. Mas agora não dá para saber se uma viga é do terceiro ou do sexto andar, por exemplo", afirmou. “Com isso, talvez fosse possível descobrir o que aconteceu”.
Administradora das obras
A gerente administrativa da TO - Tecnologia Organizacional, Cristiane do Carmo Azevedo, afirmou à polícia na segunda-feira (6) que apenas "administrava as obras do terceiro e do nono andares" do edifício Liberdade, o mais alto dos três que desabaram no centro do Rio de Janeiro no último dia 25 de janeiro.Em conversa de mais de três horas com o delegado da 5ª Delegacia Policial (Gomes Freire), Alcides Alves Pereira, Cristiane disse que atuava como uma interlocutora entre os operários e os sócios da empresa.
A depoente –que perdeu parte do couro cabeludo no acidente e ainda se recupera de um ferimento no antebraço– também negou ter alterado a estrutura do projeto original desenvolvido por uma arquiteta contratada pela TO.
"Ela administrava previamente todo o processo da obra, coordenava e estabelecia prazos, enfim, dava orientações para os operários demolirem isso ou aquilo, apontava o local para retirada de carpete, entre outras coisas", explicou o advogado da testemunha, Jorge Willians.
O advogado de Cristiane explicou que o projeto de identidade visual do quarto andar foi reaproveitado para acelerar as obras do nono pavimento, porém a gerente administrativa da TO fez algumas intervenções estéticas no arquivo antes do início da reforma.
"Em momento algum ela elaborou qualquer tipo de planta para orientar as obras. O que ela fez foi copiar a mesma planta das obras do quarto andar através de um software. A partir disso, ela alterou a disposição de alguns móveis. Apenas isso, as mudanças são referentes à disposição dos móveis", disse o advogado.
Perícia preventiva
O advogado Jorge Willians, que também defende os interesses dos sócios da TO - Tecnologia Organizacional, revelou que a empresa contratou uma equipe de engenheiros e peritos com o objetivo de analisar todo o entulho que foi produzido pelas obras realizadas no edifício. O material foi retirado por uma firma terceirizada, a Katalão, e encaminhado para um aterro.A Katalão forneceu oito caçambas do tipo Brook em "intervalos de tempo regulares", segundo a empresa, das quais sete foram utilizadas com lotação máxima. Cada caçamba utilizada para remover os destroços das obras tinha capacidade volumétrica de cinco metros cúbicos.
A assessoria da TO não confirma se as caçambas que foram utilizadas estavam totalmente cheias.
Conjunto de fatores
O proprietário da TO, Sérgio Alves, negou mais uma vez que as reformas de sua possam ter provocado o acidente. O empresário afirmou à polícia na semana passada que "um conjunto de fatores" pode ter sido o motivo do desastre."Estou convicto de que as nossas reformas não afetaram a estrutura do prédio. (...) Não sou um especialista, mas acredito que isso aconteceu em função de um conjunto de fatores que fizeram do prédio uma 'bomba-relógio' de efeito retardado", disse.
Segundo o empresário, as reformas estavam "em processo de demolição", e apenas três paredes de tijolos foram destruídas no nono andar com o objetivo de alterar a posição de um banheiro. Além disso, os operários realizavam "ajustes frequentes para regulagem das portas".
O proprietário da TO esclareceu ainda que a mudança na posição do banheiro não causou impacto algum quanto à distribuição da rede hidráulica. "O prédio possuía dois barbarás [tubulação que serve de escoamento para águas pluviais e esgoto], sendo um no canto e um no centro do andar que estava sendo reformado", disse.
Dois dias após o desastre, Alves admitiu ter iniciado os trabalhos no edifício Liberdade sem um laudo técnico assinado por engenheiro. Segundo ele, o síndico exigiu o documento, porém teria aceitado recebê-lo durante a reforma em razão de um problema particular do engenheiro contratado pela empresa, Paulo Sérgio Cunha Brasil.
"Foi acordado que o laudo seria entregue depois que a obra fosse iniciada", argumentou o empresário.
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